12 homens e uma sentença (1957, Sidney Lumet) |
Em 2014, logo após a realização do Jogo do Bicho no Centro Cultural da Juventude (e depois também do Laboratório de Jogos em Belo Horizonte), achamos que era hora de colocarmos em movimento o próximo projeto do Boi Voador, batizado então como JUSTIÇA.
A ideia do larp partia do filme 12 homens e uma sentença (12 Angry Men, no original), dirigido por Sidney Lumet e estrelado por Henry Fonda (numa atuação espetacular). Na história, um grupo de jurados decide a culpa ou a inocência de um rapaz acusado de matar o próprio pai. A decisão precisa ser unânime, já que está em jogo a pena de morte. Um argumento e tanto para um larp, certo?
Começamos lá atrás (acredito que nos idos de 2015) a traçar as primeiras linhas do projeto. Os primeiros esboços previam não uma cópia do filme, mas usá-lo como inspiração. Dessa forma, discutimos sobre transportar a história para o Brasil e criar um cenário distópico no qual a pena de morte passaria a vigorar no país.
Elencamos possíveis crimes e cenários e também discutimos um bom tanto sobre a criação dos personagens: qual seria o norte para montar nosso júri? Refletimos sobre agrupamentos em dúzias: meses do ano, apóstolos de Cristo, signos zodiacais. Pensamos também em partir de obituários retirados de jornais e leitura do tarô.
Como o Jogo do Bicho acabou tomando um caráter épico (no sentido brechtiano do termo), com suas saídas constantes dos personagens e quebras do universo ficcional, nosso interesse era partir para a investigação inversa. Para JUSTIÇA, queríamos um estudo das possibilidades da imersão radical no personagem. Como conseguiríamos levar ao máximo a separação entre jogador e personagem, fazer o primeiro virar radicalmente do avesso e viver uma outra pessoa? Para isso, tínhamos como uma das primeiras fontes de estudo o famigerado Manifesto Turku. Nada mais lógico: se o Jogo do Bicho deitava na cama do Manifesto Dogma 99, íamos para o outro texto fundamental (Em 2015, ambos manifestos já tinham muito mais valor histórico do que prático e essa tendência só aumentou nos anos seguintes; de todo jeito, é sempre bom olhar os clássicos, não é mesmo Aristóteles?).
Esse era o estado da coisa, entre reuniões no Starbucks (!) e num apartamento no Belém.Vieram então uma série de projetos e compromissos sucessivos tanto para o Boi Voador quanto para os Luízes individualmente. Uma avalanche com atividades para crianças, Ciclos de Iniciação, Apenas um Jogo, Residências Artísticas, formação para museus e outras coisas que, como resultado, mandaram o JUSTIÇA para a geladeira.
Até agora.
Nossa intenção é publicar aqui o diário de produção do novo larp do Boi Voador. Documentar o processo incluindo tanto os aspectos teóricos quanto práticos, compartilhando referências e reflexões.
Não temos prazo para finalizar o larp e nem sabemos o quanto ele vai se parecer com nossas ideias iniciais. É um percurso com mapa, mas sem rota definida e abraçando a deriva e a intuição.
Arte de capa da versão blue-ray do filme, lançada em 2017 |